As vias do progresso espiritual: Meio mais rápido de se alcançar as sétimas moradas

O que são as Vias?

O termo via, segundo a noção literal, significa caminho ou estrada a ser percorrido a fim de chegar a algum lugar específico. Ora, o que se aplica para a vida cotidiana do homem, cheia de caminhos para se trilhar, com maior razão se aplica a sua vida sobrenatural, pois, a respeito disso, nosso próprio Senhor o afirmou ao dizer sobre as características do caminho que leva à Vida (Mt 7, 14). Logo, fundamentados na autoridade das Sagradas Escrituras e dos Padres e Teólogos da Igreja, juntamente com seu ensinamento de dois mil anos, podemos concluir que todo homem, para unir-se ao único e verdadeiro bem, há de transcorrer as vias que levam à Vida Eterna, a qual consiste em estar com Cristo Jesus e com o Pai Altíssimo (Jo 17, 3).

Segundo Santo Tomás de Aquino (II, IIae, q. 24), a via pela qual a alma passa é definida pelo grau de caridade que tal alma possui atualmente. Sabemos que a virtude da caridade é umas das três virtudes teologais infundidas no batismo com o objetivo de capacitar-nos a participar da Vida Divina, e que é pela caridade que amamos e nos unimos a Deus. Quão maior a caridade de uma alma, tão maior união com Deus ela gozará e, em consequência, maior santidade. Sendo assim, à medida em que a alma cresce nos graus de caridade, mais avança no caminho que leva à Vida.

Ora, o santo doutor supracitado distingue três níveis de caridade mediante o progresso da alma. O primeiro nível é chamado de caridade incipiente (do latim incípere – iniciar, começar). É o grau próprio dos iniciantes. O segundo nível é o da caridade proficiente (do latim profícere – avançar, progredir). Esta é própria das almas progredidas. Por fim, o mais alto grau de caridade é chamado de caridade perfeita (do latim perfícere – fazer por completo, perfazer, acabar, concluir). Esta é a caridade dos perfeitos. Ademais, para cada grau de caridade há uma via intrinsecamente ligada a ele. À incipiente, a via purgativa. Para a proficiente, a via iluminativa. Para a caridade perfeita, a via unitiva. As vias purgativa e iluminativa agrupam-se em uma via mais geral, chamada de Via Ascética, graças ao caráter ativo da alma na busca por Deus. A via unitiva compõe o que chamamos de Via Mística, caracterizada sobretudo pelo caráter passivo por parte da alma na busca por Deus.

Vale ressaltar aqui que estes graus “mais gerais” admitem “subgraus”, certas etapas dentro de cada via. Estas etapas foram minuciosamente descritas, embora não de caso pensado, pela doutora da oração, Santa Teresa de Ávila, em sua obra chamada Castelo Interior, na qual a santa, vislumbrando a alma em toda a sua formosura, tal qual um castelo cheio de aposentos, brilhante como um diamante, descreve as diversas fases da vida espiritual, que seriam os aposentos, divididos em sete estágios aos quais ela chama de moradas, afirmando ainda que o Rei do Castelo, Nosso Senhor, estaria no aposento mais interior, as sétimas moradas. A alma que, segundo as palavras de São João da Cruz, vive esta ditosa ventura e adentra às sétimas moradas, será totalmente transformada no Amado Rei que ali habita. Devemos, então, determinar a divisão mais pertinente, segundo a doutrina da Santa Mãe Igreja, das moradas dentro das vias e versar sobre porque as Vias do Progresso são o meio mais rápido de se atingir às sétimas moradas.

Sobre as Vias e as Moradas

            Alguns teólogos atuais e de renome, sobretudo dominicanos, realizaram a façanha de, baseados na sólida doutrina escolástica, cujo expoente é Santo Tomás, introduzir a doutrina espiritual de Santa Teresa de Ávila dentro das vias do progresso espiritual. Tomaremos como fundamento a posição defendida pelo padre sulpiciano, Adolphe Tanquerey, tendo em vista que cremos ser a posição mais sensata a respeito desta doutrina.

            O padre Tanquerey considera como componentes da via purgativa as primeiras e segundas moradas. Já a via iluminativa seria composta pelas terceiras moradas. Por fim, a via unitiva é integrada pelas quartas, quintas, sextas e sétimas moradas. Consideraremos apenas a divisão em si mesma, sem analisar as razões da mesma devido à brevidade do atual artigo.

O fim do homem: a união com Deus

            O homem foi, como magnificamente disse Santo Agostinho, criado para Deus e seu coração não descansa enquanto não descansar em Deus. A razão para esta afirmação é que o homem, ser dotado de uma alma racional e imortal, criado à imagem e semelhança de Deus, anseia por algo que seja sumamente inteligível e verdadeiro, belo e extremamente deleitável, e que seja eterno. Ora, Deus é tudo isso, conforme a doutrina exposta por Santo Tomás na Suma Contra Gentiles. Portanto Deus é o anseio de todo homem.

            Com efeito, se Deus é o anseio de todo homem, é plausível que ele busque conhecê-Lo, para amar Aquele a quem conhece. Ademais, é próprio do amor unir os que amam, segundo o que disse o Apóstolo (Col 3, 14). E da união segue-se a transformação do que ama no amado. Logo, o homem, por ocasião da união com Deus, viverá Sua própria vida e será transformado Nele.

            Tomando como premissa a divisão feita por Adolphe Tanquerey, a união com Deus já ocorre nas quartas moradas. Todavia deve-se ressaltar que a união mais perfeita ocorre nas sétimas moradas, com a total transformação da alma em Deus. A partir daí ela será, em sentido estrito, imagem e semelhança de Deus. Queremos, portanto, estabelecer pelo menos três razões, embora existam mais, de porque as Vias do Progresso são o meio mais rápido de se chegar à união perfeita com Deus, i. é, as sétimas moradas.

            A primeira razão consiste no seguinte: as sétimas moradas são, por analogia, o fim do homem aqui nesta vida. Entretanto são necessários os meios convenientes para se chegar ao fim desejado. Ora, as Vias do Progresso espiritual são o meio ótimo para se chegar às sétimas moradas, uma vez que elas versam sobre e contêm todos os pormenores do avanço da alma na senda da virtude. Logo, as Vias do Progresso são o meio mais rápido de se chegar às sétimas moradas.

            A segunda razão consiste no seguinte: quanto mais um meio é conveniente a um fim, tanto mais ele possuirá algo de semelhante a este fim. Com efeito, o fim da alma introduzida nas sétimas moradas é a união perfeita com Deus pela virtude da caridade, virtude a qual está presente em todas as vias que conduzem às sétimas moradas e união com Deus, embora em graus distintos, mas que dá o caráter de semelhança entre as vias. Portanto, as Vias do Progresso são o meio mais rápido de se chegar às sétimas moradas.

            A terceira razão consiste no seguinte: nenhum homem sensato, desejando chegar a um determinado lugar, seguiria por um caminho tortuoso e às cegas, ou por um caminho que não conheça, ou ainda por um que não conduz ao fim desejado. Ora, aquele que conhece a via por onde caminha certamente alcançará o fim almejado do modo mais rápido e eficaz. Portanto, as Vias do Progresso são o meio mais rápido de se chegar às sétimas moradas.

            Considerando estas três razões, podemos concluir que, devido à enormidade de detalhes e minúcias que são compreendidas pela vida espiritual, além da baixeza a qual a inteligência humana foi submetida graças ao pecado original e, em alguns casos, aos muitos pecados atuais, as Vias do Progresso são um ótimo meio de se alcançar a união perfeita com Deus que ocorre nas sétimas moradas. Tudo isso graças a sua simplicidade, a seu caráter sintético e a sua capacidade de esclarecimento das diversas intempéries que englobam a vida interior.


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